Francisco Costa
21.maio.2005
Na Cadeira de Calvin
Tania Menai, de Nova York
Francisco Costa, 39 anos, considera-se um “quase-workaholic”. Discreto, procura manter-se fora dos ti-ti-tis da moda concentrando-se apenas na criação de coleções e na direção de sua equipe de seis pessoas. Sua história em Nova York começou em 1990, quando chegou na cidade para estudar moda. Logo ganho um um concurso de novos talentos que lhe rendeu uma bolsa de estudos na Itália. Durante cinco anos, trabalhou com Oscar de la Renta, até ser pescado por Tom Ford, da Gucci, em 1998. Responsável pela criação de vestidos de luxo para clientes exclusivos e celebridades, em 2003 Costa deixou a Gucci a convite do próprio Calvin Klein. Durante um ano, traballhou lado a lado com Calvin Klein sem ter a menor noção de que a companhia estava sendo vendida. “Depois da venda, Calvin Klein colocou o departamento de moda feminina inteiramente nas minhas mãos”, conta ele, que chegou a ser chamado de “new kid” (novo garoto) pela imprensa americana logo que assumiu o cargo. Costa conversou com a Veja em seu escritório na sede da Calvin Klein, em Manhattan.
Como você começou na moda?
Nasci em Guarani, no interior de Minas, aquela delícia. Meus pais fabricavam roupa infantil. Inclusive, a zona da mata mineira é uma área de fábricas e fabriquetas. Cresci assim. Depois da escola, eu ia para a fábrica, isso me incentivou. Sempre pintei e estive envolvido com arte. Minha mãe era muito empreendedora, agia como se fosse a prefeita da cidade. Quando ela morreu, eu tinha apenas 18 anos – foi aí decidi vir para Nova York, assim, de supetão. Na época, eu morava no Rio de Janeiro, onde estudava malharia e confecção no Senai-Cetict – não havia curso de estilismo. Para estudar lá, era preciso estar envolvido no ramo. Em Nova York, começei fazendo aulas de inglês, investi todo meu dinheiro na Hunter College, que me deu um visto de estudante. À noite, fazia as aulas de moda Fashion Institute of Technology (FIT), o que foi fantástico.
O que você aprendeu com cada estilista com quem trabalhou?
Com o Oscar é aquela coisa de alta-costura, quase perfeita, de ter prazer em vestir, a roupa como um romance, uma forma de conquistar. Ele gosta muito de cor. Quando eu morava no Brasil, ninguém vestia cor – era muito cafona. Vestia-se branco, beige. Com o Tom Ford, da Gucci, é tudo a favor da imagem, feito para a câmera. Ele desenvolveum muito de seu trabalho baseado no que Calvin Klein fez.
E com Calvin?
Ele é fascinado por tecidos. A paixão que o Oscar tem com cor, o Calvin tem com tecidos. Quando desenvolviamos coleções, pesquisamos muito, inclusive em mercados-de-pulgas, para ver como era os tecidos antigos. Aqui, metros e metros de tecidos eram desenvolvidos especialmente para a Calvin Klein. Para mim, foi um choque cultural ver aquilo tudo.
É difícil sobreviver no mundo da moda em Nova York?
É preciso ter muita preseverança e paciência. Não é fácil. Na cerimônia da entrega do Oscar deste ano, decepsionei-me com Hillary Swank. Eu já tinha vestido-a para da festa do Globo de Ouro, e preparei um outro vestido para a noite do Oscar. Não é que ela aparece no Oscar com outro vestido? Aquele vestido era uma coisa tão importante para a empresa, que na hora em que ela chegou na festa, o telefone começou a tocar, os advogados da empresas começaram a telefonar. Temos que ter muito pé no chão, porque há muita fofoca, muita mentira. Mas eu procuro me distanciar de tudo isso.
Ser estrangeiro lhe favorece, ou isso não faz diferença?
Ser brasileiro nunca me atrapalhou, pelo contrário. Calvin é um profissional muito rápido. A paixão dele pelo Brasil nada tem a ver comigo – mas ele adora o fato de eu ser brasileiro, de estar lá, de sair nos jornais. Ele adora.
Até que ponto você desenha pensando em vender?
Desenhar pensando em vender é fundamental. Não entendo o ato de criar uma peça que não se pode vestir – moda não é arte. Moda é um negócio. Acho até meio cafona achar que moda é arte. Moda é comercial sim, é para vender, tem valor.
Quantas peças você precisa preparar por ano?
Meu time, de seis pessoas, prepara duas coleções – primavera-verão e outono-inverno. Tenho de fazer o modelo de cerca de 150 peças, que são cortadas em tecidos diferentes. Vou ao mercado, compro roupas antigas. Por exemplo, recebi um presente de minas, com tecidos floridos e santinhos. Foi o suficiente para me dar idéias para a próxima coleção.
Qual a grande contribuição da Calvin Klein para a moda?
Ele colabrou com simplicidade e praticidade – no início, ele criou essa essência do muito fácil e do atemporal. Aquela coisa de uma camisa branca, clean. A essência de cada peça; manter uma coisa que funciona há 20 anos.
Onde a Calvin Klein se situa nesta indústria?
A CK é marca mais conhecida no mercado internacional. Mas é difícil compará-la com outras marcas porque, apesar de a Calvin Klein ser uma companhia imensa, sua coleção é pequena. Ainda assim, podemos equiparaá-la à Ralph Laurent, e talvez à Gucci, mas a CK ainda é bem maior.
Houve alguma mudança depois que Calvin deixou o cotidiano da empresa?
O Calvin é a grande pessoa de moda americana, aquele que criou esse mundo de produtos, de branding. Meu objetivo é seguir com este método, mas criar algo que seja mais atraente – se você ver hoje as nossas publicidades, há mais apelo para o produto, vê-se mais o vestido, a suéter – no passado, via-se mais a imagem, e menos o produto. É o produto o que eu faço, é o que gosto.
Como você se veste?
Vivo de jeans e camista – quanto mais simples, melhor. Mas, de vez em quando, adoro um black tie.
# # #
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
---
back |